Nesta Complexidade do Ser, Sou
Centro Cultural Sistema FIEP – 2019
Transcrição da fala de Bianca Dias durante a roda de conversa da exposição “Nesta Complexidade do ser, sou” que ocorreu no dia 29 de Outubro no Centro Cultural Sistema FIEP. O texto foi adaptado para maior compreensão do leitor.
[…] Alguns pontos do meu encontro com a Guita e do que eu achei interessante, a partir da exposição e também a partir da visita que eu fiz hoje ao ateliê dela. Porque eu conheci a Guita, tenho que contar como foi, foi muito interessante, porque eu vim dar um curso em Curitiba e vim falar da minha pesquisa na universidade, que é uma pesquisa sobre a ideia de biográfico na arte, e com essa ideia de vida e arte da biografia, é atravessada por uma ideia da psicanálise, da constituição do Eu. Então não é uma ideia de vida e obra como causa e efeito, mas como a possibilidade de rastros da vida que estão atualizados na obra e da obra se atualizando pela vida.
E aí eu conheci a Guita num curso que eu dei falando sobre essas questões, e eu falei sobre artistas que ela gosta muito. A gente começou uma conversa e falei da Naomi Kawase e falei da Agnes Varda. E depois quando eu terminei o primeiro dia de aula ela veio falar comigo, eu achei fantástico isso. Apresentei um filme da Agnes Varda, “Os catadores e eu” que é um documentário muito bonito. E apois, no filme “Dois anos depois” ela vai recolher outros depoimentos a partir desse primeiro documentário. Em “Os Catadores e eu” ela trabalha com uma ideia, do Walter Benjamin, do artista como o lixeiro,”glaneur”. Um artista para o Walter Benjamin é esse que recolhe os restos da cultura, e refaz algo com isso. É aquele que está lidando com os dejetos, com o disfuncional, com aquilo que não tem uso na cultura. Então a Agnes Varda sai nessa empreitada, nesse documentário “Os catadores e eu” como uma catadora. Ela usa como referência a obra “As Respigadoras”, e ela se coloca como catadora desses dejetos desse resto da civilização. Ela vai a feiras ela vai atrás de pessoas que vivem na rua e pegam os restos. Ela vai atrás de uma artista que trabalha a partir de resíduos e vai conhecer um chefe que trabalha com restos de uma certa forma, com cascas, transforma isso em alta gastronomia. Tem um texto de um psicanalista lacaniano, Jacques-Alain Miller, que se chama “A salvação pelos dejetos” e é aonde ele vai falar da arte, que a arte é o lugar da salvação pelos dejetos, disso que resta de uma operação da cultura e que você pode sublimar, fazer algo com isso, criar a partir disso.
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