Sede da Fundação Cultural de Curitiba
Enio Marques Ferreira – Junho de 1983
A evolução de uma trajetória artística terá significado ainda mais expressivo se o vetor em progressão puder ser
acioando por sua própria dinâmica de impulsão.
Obedecendo a esse princípio, sem queimar estapas nem de valer de qualquer artifício extra-artístico, Guita
Soifer, consciente de sua potencialidade e determinação, vem se lançando a uma surpreendente escalada
ascencional que a coloca, sem favor algum, como postulante ao primeiro time da arte paranaense de hoje.
A quase premeditação com que GS estaria projentando a sua carreira poderia parecer paradoxal, se comparada
à atitude, até certo ponto aleatória, de muitos artistas diante do universo de suas especulações e anseios. Ela
porém não abre mão da lucidez de propósitos e da clara perspectiva eu antevê para o seu futuro.
Apesar disso, nessa cronologia de avanços percorridos gradualmente, as maiores conquistas se acentuam a
partir de 1980, em um período de nítida transição, quando se supões ter ocorrido um novo despertar, como se
as dúvidas do processo criativo ou a sua posição perante o contexto sócio-cultural que a envolve, não mais
necessitassem ser questionadas.
Nos anos que antecederam esse divisor de águas, recebeu em Curitiba a orientação básica de Lia Folch Costa.
Frequentou, em São Paulo, mais recentemente, o estúdio de Hedva Megged, pintora que pertenceu à equipe do
muralista mexicano Siqueiros, o que parece ter contribuído para que a estrutura de sua obra adquirisse um
maior equilíbrio cromático e espacial.
Após esse período relativamente curto de formação, quando sua produção a partir de 1979 foi mostrada em
coletivas e salões de arte de maior ou menor expressão, a artista começou a ter o seu trabalho plenamente
reconhecido nos certames mais categorizados. E, pelo visto, a alta rotatividade dos diversos salões regionais
teve um papel preponderante no rápido desenvolvimento técnico e artístico da pintora, que considera
estimulante a contínua troca de informações e o confronto direto de sua obra com a de artistas de todo o país.
Com incursões recentes na área da gravura, levada pela competência profissional do mestre Orlando Dasilva,
pode-se, no entanto, afirmar que GS é essencialmente uma pintora/desenhista que utiliza a aquarela como
elemento fundamental no próprio trabalho de criação.
Despojando-se da rigidez formal e dos comportados resquícios acadêmicos do período final dos anos setenta,
sua produção atual vai adquirindo com a supressão do supérfluo, os contornos e a descontraída espontaneidade
de uma obra adulta. E apurando a técnica da aquarela, que fluir livre, leve e transparente sobre o papel, obtém
ela, a par do alegre esquema compositivo, resultados de uma insuspeitada unidade plástica.
Com todo esse conjunto de qualidades, consegue GS transformar as simples coisas do cotidiano, que são o
núcleo de sua temática, em um rico filão de inesgotável valor expressivo, cujo produto comove e envaidece a
todos que confiam na artista e que chegam a se surpreender com a energia dessa mulher suave e resoluta, que
jamais aceitaria a doce amenidade dos momentos sociais como tônica e razão do seu procedimento existencial.